quarta-feira, 18 de julho de 2012

Sigam-me os fiéis (os infiéis também)! Música e Religião. Acredite!


Música e Religião sempre estiveram profundamente ligadas. Não conheço uma manifestação religiosa que não se utilize de tal linguagem. Inclusive, embora a Música que conheçamos hoje esteja fortemente ligada ao entretenimento, nem sempre foi assim. 
Exércitos sempre foram impelidos por caixas e trombetas, assim como descrito em Josué 6, quando após se fazerem soar sete vezes, as trombetas fizeram ruir as então inexpugnáveis muralhas de Jericó (o exército israelense invadiu "e tudo quanto havia na cidade destruíram totalmente ao fio da espada, desde o homem até à mulher, desde o menino até ao velho, e até ao boi e gado miúdo, e ao jumento". Menos a prostituta Raabe, mas isso já é outra história), significando para mim o grande poder da Música de romper todas as barreiras ideológicas e preconceitos. Música é arma.

Fico imaginando o homem europeu medieval. Imundo, analfabeto, no ambiente nas catedrais góticas, com sua arquitetura e seus vitrais criando um ambiente impressionante e místico para a época (continua a ser para aquele que se permite) ouvindo corais de missas cantadas em polifonias ainda adolescentes. De vozes infantis. De homens castrados. Sentindo-se tão perto de seu deus. 

Organum Duplum de Leonin, um dos compositores da escola de Notre Dame (sim, a catedral parisiense era uma escola), junto com seu irmão gêmeo Perotin.

Tudo seria "reformado" - via Música - com os corais luteranos tão comprometidos com sua mensagem e tão bonitos. Se João Sebastião Bach (in Bach we trust!) era profundamente impulsionado e influenciado por essa força, quem poderá menosprezá-la? Será que essa importância dada à Música por protestantes terá gerado a grande quantidade de centros onde se aprende a tocar instrumentos de igrejas pentecostais e neopentecostais?

Cantata 147 de J.S. Bach - "Jesus bleibet meine Freude" ("Jesus, alegria dos homens")

Ainda dentro do espectro judaico-cristão me remeto à fala ekfonética. Rituais de linda monodia - uma fala insatisfeita, querendo alçar voos.
Budistas cantam. Monges entoam longas vogais, poderosas, geram transes (cuidado com a levitação). Nossos índios buscavam a pulsação, eram (são) rítmicos, ostináticos, eternos móveis dentro de uma floresta gigantesca. E a dança da chuva feita num desenho animado do Pica-Pau numa televisão à tarde.
Canto de monges budistas - quem arrisca um remix?

Da mesma floresta vem a ayahuasca, que junto com a Santa Maria (conhecem? Viver num país com liberdade religiosa possibilita cada coisa...) impulsionam os hinos do Santo Daime (por onde andará Andréia, que me procurou justamente para estudar isso?) 
Hino "Eu tomo Daime". Não sei quanto a vocês, mas eu ouço todo o sentimentalismo brasileiro..

Aliás, Daime é  religião brasileira como a Umbanda. É tudo obscuro, mutável, mas incrivelmente influente em nossa cultura. Toque de exu, de caboclo, de pomba-gira etc etc etc... tamborzão.
Ponto de Umbanda - "Cigana de fé". Quem conhece os discos de samba ("Sou fio da véia, ô... eu não temo nada... a véia tem força, ô... na incruziada...")? Semelhanças?

Sinto saudade dos Hare Krishna que andavam cantando, tocando e dançando pelas ruas da cidade. O que terá acontecido? Trocaria fácil suas músicas por muito do que ocupa a paisagem sonora atual. Um toque de recolher?
Belo canto responsorial. Verdadeiro processo de musicalização infantil informal.

Espero não ser mal compreendido por ninguém - não ter que enfrentar fúrias e jyhads. Afinal de contas, todos estaremos juntos quando as sete trombetas evocarem os sete anjos do Apocalipse. Canta pra subir!




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